O seriado estadunidense Sex and The City retornou às telinhas em 2021, abrindo espaço para uma dúvida legítima: a série perdeu ou não sua essência?
Um clássico dos anos 1990 e alvo de inúmeras críticas e elogios, SATC foi, definitivamente, um divisor de águas na percepção da mulher na televisão.
Contando a história de quatro amigas, Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte, o seriado explora um dos assuntos mais tabus da época: o prazer feminino.
Entretanto, seu retorno à televisão não agradou tanto o público antigo.
Seja pela falta de uma das integrantes – volta, Sam! -, pela perda repentina de Mr, Big ainda no primeiro episódio, ou, então, pela péssima representatividade da cultura woke, a série não deixou de acumular críticas desde sua estreia, no dia 9 de dezembro de 2021, na HBO Max.
Premissa de Sex and The City
Carrie Bradshaw, uma colunista da Vogue, se muda para Manhattan ainda aos 20 anos e inicia sua jornada como escritora através da selva de concreto.
Junto com três amigas, Miranda, Charlotte, e Samantha, Carrie retrata sua vida amorosa, contando histórias sobre seus desencontros com os homens novaiorquinos.
Explorando diversos assuntos considerados tabus na época, incluindo o sexo através da perspectiva feminina, homossexualidade, escolha da carreira acima da vida de dona de casa, e muitos outros, a série teve seis temporadas, e ficou em exibição desde sua estréia, em 1996, até a season finale, em 2004.
Apesar de quebrar barreiras em relação aos assuntos femininos, Sex and The City foi alvo de inúmeras críticas, tanto da comunidade conservadora, quanto da progressista.
Polêmicas em Sex and the City
Apesar das críticas à promiscuidade e destruição dos valores tradicionais por parte da comunidade conservadora, os julgamentos mais intensos vieram das comunidades mais progressistas.
As porta-vozes do movimento feminista não se calaram diante da homogênea representatividade feminina da série, tecendo críticas sobre a falta de diversidade racial e social das personagens, o protagonismo masculino nos problemas femininos, e no reforçamento dos estereótipos da época, tão danosos às mulheres.
A própria Miranda Hobbes demonstra seu descontentamento com as pautas discutidas pelo grupo, ainda na terceira temporada, questionando o porquê de “quatro mulheres inteligentes não terem nada para falar, além de discutir sobre namorados”.
Além disso, outras críticas foram levantadas em relação à série, desde problemas classistas, gordofobia e, até mesmo, homofobia.
Polêmicas em Just Like That…
Apesar de sua versão original ter sofrido inúmeras críticas, com o reboot de SATC não foi diferente!
No ar há apenas dois meses, Sex and The City – And Just Like That… bateu um recorde de reclamações e indignações por parte da audiência.
A única diferença é que, agora, as críticas são completamente opostas às iniciais!
Forçação de barra?
Obviamente as relações pessoais estão evoluindo e, consequentemente, os padrões culturais estão cada vez mais tolerantes e diversos.
Entretanto, SATC And Just Like That.. acaba tendo uma abordagem rasa quando o assunto é a introdução de debates identitários e representatividade da cultura woke.
Apesar de altamente importante e atual, assuntos como racismo, classismo e consumismo, transexualidade, não-monogamia, religião e não-binarismo, não são tão simplórios quanto retratados na série.
A escolha de um adolescente em ser identificado como um menino raramente é tão pacífico na vida real quanto foi representado por Charlotte e Rock.
Além disso, a representação de situações simples veladas de fatores vexatórios, como Miranda confundindo sua professora por uma aluna, por conta de seus dreadlocks, e Charlotte trocando o nome de duas amigas, por conta de ambas serem negras, além de serem pouco relacionáveis na realidade, em nada contribuem para as discussões em pauta.
Apesar das claras boas intenções dos produtores de se retratarem pelos erros cometidos no passados, a execução definitivamente não foi tão boa quanto o esperado.
Cultura woke
Além das dificuldades de retratar diferenças identitárias de uma maneira não fictícia e cômica, os produtores mantiveram os estereótipos coletivos, mudando apenas de público-alvo.
Apesar da maneira como é retratada na série, a cultura woke – preocupada com as minorias – não é tão insuportável quanto Che Diaz a faz parecer.
Não, os Millennials não andam por aí transformando qualquer assunto em discussões políticas, sendo anacrônicos e não tendo nenhum respeito por pessoas que pensem diferente.
Quer dizer, pelo menos é nisso que a gente quer acreditar!
Recepção pelo público
Apesar das críticas, a recepção da série pelo público foi bastante dividida.
Enquanto alguns alegaram que a essência da série foi perdida com o excesso de pautas sociais retratadas, muitos espectadores aplaudiram a iniciativa dos produtores em levantarem questões atuais e pertinentes, onde antes só existiam conversas sobre homens, sapatos e dinheiro.
Afinal, Sex and The City perdeu ou não sua essência?
Apesar das reviravoltas ocorridas nas seis temporadas de SATC, nos dois filmes e, agora, no reboot da série, Sex and The City ainda continua fiel à sua essência: a amizade e sororidade entre mulheres, independentemente das questões sendo tratadas.
Claro, atualmente Carrie, Miranda e Charlotte trocaram os papos sobre Manolo Blahniks e bolsas Prada por discussões sobre alcoolismo, morte, divórcio e questões sociais.
Entretanto, o grupo de amigas continua se apoiando, demonstrando que a amizade verdadeira permanece além do tempo e das mudanças culturais.